Lendas urbanas em Pelotas: os túneis subterrâneos


Carolina Batista, Daniel Batista, Daniela Mello, Giancarlo Santorum, Guilherme Rajão, Luíza Mattea, Matheus Cabistany e Talyssa Machado.

Uma lenda urbana trata-se de uma história, ou um conjunto de histórias sobre determinado tema, envolvendo ampla divulgação, seja por meio da mídia ou mesmo “de boca em boca” pela população sem que se comprove a veracidade dos fatos por fontes confiáveis e/ou documentos. Em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul, em meio a tantas outras histórias, têm-se a de supostos túneis subterrâneos, que ligariam diversos pontos da cidade. Uma grande quantidade de boatos acerca dos túneis circula por Pelotas desde o século passado. Histórias que envolvem uma zona para comunicação com a Alemanha nazista, uma possível rede clandestina de aborto e até o transporte de escravos tratam de fomentar discussões acerca da serventia dos túneis.

Um dos túneis era localizado embaixo da antiga Cervejaria Ritter. Foto: Singoala Miranda

A Cervejaria Ritter

Em 1876 foi inaugurado o primeiro empreendimento de Carlos Ritter (1851-1926) na cidade de Pelotas, a Cervejaria Ritter. Filho de imigrantes alemães, Ritter chegou à Pelotas para ficar, seis anos antes. A cervejaria fundiu-se com a Cervejaria Sul-Riograndense em 1889 e funcionou até 1940, quando foi comprada pela Cervejaria Brahma, com a intenção de monopolizar o comércio de cerveja na cidade. A partir daí, funcionou apenas como depósito e distribuidora.
Nos porões da antiga cervejaria, localizada na rua Marechal Floriano, entre a Santa Casa e o Camelódromo, nasceram diversos boatos envolvendo os túneis subterrâneos. Boatos estes que, difundidos pela população ao passar dos anos, alimentam a lenda urbana. A área subterrânea do empreendimento é grande – acredita-se que ocupava a quadra toda. Era utilizada para estoque e fermentação. Mas populares alimentam outras teorias sobre o uso dos porões: “dizia-se que esses túneis encobriam uma rede de transmissões secretas via rádio, servindo aos espiões nazistas no período do Terceiro Reich. Acredito que esses boatos foram fortalecidos por conta da relação entre os responsáveis pela cervejaria com a Alemanha”, conta a civil Valesca Mattea (76).

Rede clandestina de abortos

Com menos força do que a história envolvendo a Cervejaria Ritter e as transmissões de rádio, surge mais uma suposição acerca dos túneis subterrâneos: a da possível existência de uma rede clandestina de abortos. Esta, no começo do século XX, servia às famílias mais influentes da época. Também se fala em possíveis casos de abuso sexual envolvendo pessoas ligadas à Igreja Católica que seriam acobertados no local.
Transporte de escravos

Uma outra teoria acerca do uso dos possíveis túneis é a de que eles serviam para o transporte de escravos, durante a década de 1870 e começo da década de 1880. Esta, junto com a da Revolução Farroupilha, é a suposição mais irrealista a respeito da lenda urbana. Leonardo Spallone, professor de História da escola Mário Quintana, destaca a inexistência de resíduos documentais que sustentem as teorias. Sobre a do transporte de escravos, ele lembra que na época citada, a escravidão era liberada, não sendo necessário esconder o transporte dos escravos, sendo uma despesa desnecessária.

Um dos possíveis subterrâneos em Pelotas. Foto Singoala Miranda


Revolução Farroupilha e a não convergência de datas

Há ainda uma outra teoria, envolvendo a Revolução Farroupilha, de caráter separatista, e um túnel na Praça Coronel Pedro Osório, com saída na Casa da Banha. Porém, quando o local foi cercado com barris de pólvora pelo exército da República, os soldados farrapos se renderam. Entretanto, a Revolução Farroupilha ocorreu de 1835 até 1845, antes da construção dos possíveis túneis em Pelotas, conforme destacou Spallone.


Possível fim dos túneis

De acordo com uma fonte que não quis ser identificada, os túneis existiam em várias partes do Brasil e eram utilizados como local de armazenamento do exército na Era Vargas. Em Pelotas, após longo período de inutilização, os túneis seriam restaurados para escoamento de água, a fim de evitar alagamentos. Porém, com as possíveis descobertas sobre a maneira com que eram utilizados, teria acontecido conflito entre poderes da cidade, resultando no fechamento definitivo dos acessos subterrâneos.


Desmistificação da lenda urbana

Embora várias lendas sejam divulgadas pela população, historiadores especializados em pesquisa sobre a história da cidade tratam de dar um “banho de água fria” em quem acredita e gosta de compartilhar os boatos. É o caso de Adão Monquelat (70), de grande reconhecimento como um dos principais historiadores de Pelotas. Monquelat trata toda a história dos túneis como uma grande ficção: “é uma história absurda. Não há nenhum resíduo documental que comprove a existência desses túneis. Se houvesse, eu saberia”, relatou, salientando ainda que trabalha há doze anos analisando os documentos que são armazenados na Bibliotheca Pública Pelotense.
Singoala Miranda, arquiteta de Pelotas, destaca a existência de tuneis que passavam por baixo da Santa Casa. Entretanto, o fato carece de documentos que o comprovem. Documentos estes que a arquiteta tentou encontrar durante sua pesquisa inicial, mas sua investigação foi interrompida devido as reformas que estavam ocorrendo na Bibliotheca Pública Pelotense na ocasião.

                                           A relação entre Rio Grande do Sul e a Alemanha

Em meio a tantos pontos de vista, um deles é exposto pelo historiador José Plínio Guimarães Fachel. De acordo com ele, no livro "As violências contra alemães e seus descendentes, durante a Segunda Guerra Mundial, em Pelotas e São Lourenço do Sul", a relação entre o Rio Grande do Sul e a Alemanha sempre foi próxima, contando com intenso fluxo de pessoas entre os dois locais e o estabelecimento de colônias alemãs no estado brasileiro.  Na área econômica,  o volume de exportações do estado gaúcho já era elevado mesmo antes da ascensão nazista, sendo consolidado no período entre as duas guerras mundiais. No entanto, as exportações para a Alemanha nazista sofreram queda com o início da segunda guerra mundial no ano de 1939.


Entrevista com Adão Monquelat (historiador pelotense)
 

1 comentários:

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O projeto "A pauta" foi desenvolvido como atividade da disciplina de Webjornalismo do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).