É preciso olhar para o futuro

Em meio a dificuldades econômicas e expectativa de vida em alta, planejamento é palavra-chave para “viver a vida” na terceira idade
Por Daniel Batista e Matheus Cabistany


Com aumento da Expectativa de Vida ao Nascer, é preciso planejar um futuro desde cedo. (Foto: Talyssa Machado)

As pessoas estão vivendo mais. Provavelmente essa afirmativa, ou outra semelhante, foi ouvida recentemente pela maioria da população. Isso porque ela, além de relevante, é verdadeira. A população idosa é parcela cada vez mais significativa do número total de brasileiros. Dessa forma, planejar a vida de aposentado se faz necessário para desviar dos obstáculos econômicos e chegar à velhice em plenitude.


Segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os cidadãos considerados idosos - acima dos 65 anos - representam, hoje, 9,52% da população brasileira, cerca de 20 milhões do total de 210.147.125 milhões estimados para este ano. O índice aponta um crescimento considerável em relação a 2010, quando marcava 7,32%. O Instituto prevê um aumento progressivo nessa estatística ao longo dos próximos anos. Em 2060, um a cada quatro brasileiros serão idosos, compondo 25,49% da população brasileira. No Rio Grande do Sul, esse número será de 29%. 


Índice de Preços ao Consumidor - 3ª idade (IPC-3i) e Indíce de Preços ao Consumidor para todas as faixas etárias (IPC-BR) são realizados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A projeção do IBGE leva em conta fatores como as Taxas de Natalidade, Mortalidade (total e infantil) e Fecundidade, além da Expectativa de Vida. A última cresce cada vez mais com os avanços na área da saúde e o aumento do acesso à água tratada e esgoto. Os números apontam que as pessoas têm uma vida cada vez mais longa. Desse modo, chegar à terceira idade já não é necessariamente um temor, no qual a única preocupação é sobreviver. Embora os cuidados com a saúde aumentem e, consequentemente, os gastos com ela também, os cidadãos buscam alternativas para aproveitar mais essa fase da vida.

Para isso, o economista Ezequiel Megiato aponta planejamento como palavra-chave no cotidiano da população. “A longo prazo é muito importante que as pessoas façam algum tipo de poupança para o futuro”, asserta. Ele exemplifica a importância de poupar por meio de uma experiência própria no passado. “Quando eu fiz um estágio em um banco, me lembro que um dos vendedores de seguro perguntou aos funcionários quanto gastávamos no final de semana. Ao ouvir a resposta, nos questionou se sabíamos que aquilo poderia ser nosso plano de saúde no futuro”, relembra.

A história de vida do pelotense José Antônio Martins, 82, ilustra a análise de Megiato. Ele se aposentou aos 65 anos, quando recebia três salários mínimos. Hoje, dezessete anos depois, ganha metade disso. “Não poupava meu salário, mas me arrependo”, pontua. O aposentado relembra de quando precisou realizar uma operação na próstata mas, assim como a maior parte dos brasileiros, encarou uma longa espera — oito meses — até ser atendido pelo SUS. 

José Martins vive, atualmente, com a aposentadoria de 1,5 salário mínimo por mês. (Foto: Talyssa Machado)

Esse tipo de situação é comum à realidade do cidadão médio. Como alternativa para fugir dela, Megiato sugere um “seguro-saúde manual” feito pelos cidadãos ao longo da vida. “Os planos de saúde não possuem (seguro-saúde). Se eu pagar a vida inteira por um plano caro mas nunca usar, não tenho nenhum benefício lá na frente. Quando jovem, posso pagar por um plano ambulatorial, básico, e separar uma outra parte da minha renda para aplicar”, avalia o economista, que aconselha investir essa outra parcela em renda vitalícia. “A partir de 25, 30 reais, posso começar a construir o meu seguro-saúde”, salienta.

Saúde em dia é fator indispensável para a aptidão ao lazer. Isso vale para todas as idades. Fã da cantora Alcione, Martins relembra que perdeu o show do ídolo por conta de uma endoscopia, mas teve segunda chance. “Dois meses depois ela voltou e minha filha me levou”, comemora o aposentado, que possui 15 dos 18 LP’s (long plays) da rainha do samba. 

Associação para aposentados cresce em Pelotas

Diante da expectativa de vida cada vez maior, cresce a procura por instituições que proporcionam serviços destinados aos aposentados. A Associação Beneficente dos Aposentados e Pensionistas de Pelotas (Abapp), criada em 1970, vive, hoje, seu auge. A organização conta com atividades culturais, cursos, projetos, atendimento médico e serviços odontológicos.

A aposentada Rosa Pereira, 72, faz parte do quadro social da Abapp, o qual 65% é composto por mulheres. Ela utiliza a estrutura disponibilizada pela associação para realizar consultas médicas. Sua mãe, já falecida, foi a responsável por apresentar a instituição à idosa, que afirma viver confortavelmente nos dias atuais por conta de uma poupança mantida por ela durante 30 anos. “Tem pessoas que pensam no momento, eu sempre pensei no futuro”, salienta. 

Rosa Pereira utiliza os serviços médicos da ABAPP, por R$ 28,00 ao mês. (Foto: Talyssa Machado)

Para a área da saúde, a Abapp dispõe de ambulância disponível 24 horas aos associados. Além disso, há a facilidade de agendar consultas via ligação gratuita. O presidente da associação, Salvador Ribeiro, destaca, ainda, o fornecimento por parte da associação de receitas necessárias para medicamentos mais complexos.

Salvador Ribeiro, presidente da Abapp, ressaltou o foco na área social. (Foto: Talyssa Machado)

O número de associados da Abapp foi multiplicado nos últimos anos. Em 2008, eram 1,8 mil colaboradores. Hoje, são 12 mil aposentados vinculados à instituição. Salvador atribui esse crescimento, principalmente, ao desenvolvimento da área social. “Hoje, as pessoas procuram a Abapp para fazer ginástica, aerodança, pinturas em telas, ir ao cinema, turismo, enfim. Entretenimento”, destaca o gestor. Ele acrescenta que é importante fornecer ambiente e rotinas diferentes aos idosos. “O intuito é tirar o associado da ociosidade de acordar, fazer comida, lavar roupa, ver televisão e dormir”, pontua.

Diante desse panorama, o maior sonho dos idosos vinculados à Abapp na atualidade, segundo seu mandatário, não é nenhuma surpresa: uma hidroginástica. Ele explica que, diante da atual infraestrutura e realidade financeira, hoje ainda é inviável atender ao desejo dos associados. “Futuramente, se houver espaço físico e uma parceria que forneça o serviço, quem sabe?”, especula o presidente.


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O projeto "A pauta" foi desenvolvido como atividade da disciplina de Webjornalismo do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).